quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Rumo da Criminologia


Segundo o pensamento de Karl Popper, a ciência é o melhor exemplo de uma actividade racional e o melhor meio para se abordar a racionalidade. Por duas razões: porque a ciência é necessariamente racional e porque reclama uma atitude de permanente critica. O mesmo é dizer que por mais sólido, definitivo ou certo que o nosso conhecimento nos pareça, a atitude deve ser a dúvida, a incerteza e uma procura constante de encontrar uma explicação mais adequada para a realidade.

Em "A lógica da pesquisa cientifica", Popper reflecte sobre o critério de demarcação de uma ciência e do pensamento indutivo. Assumindo-se contra este último, afirma que o único modo de uma ciência ser empírica é submeter-se à prova. Isto é, ser falsificável. Senão vejamos. Se partirmos de um conjunto de observações e quisermos verificá-las, não estaremos nós à procura de algo que assumimos que existe? Não estaremos à procura do esperável? Com efeito, urge uma forma diferente de atribuir cientificidade a uma teoria, ou, então, de substituir um conjunto de meras observações por uma teoria no verdadeiro sentido da palavra. Mas será esta teoria por si só definitiva? Não, já que a Ciência é movida pela critica, pelo progresso, pela abertura a novos desenvolvimentos. Daí que o autor tenha desenvolvido o método dedutivo de prova (que corporaliza a falsificabilidade) e que consiste em colocar em relevo os erros contidos na teoria, corrigi-los e refazer essa teoria.

Assim, Karl Popper contribui para implementar uma vontade de saber mais e de não nos conformarmos com o adquirido que apenas nos permite viver na escuridão.
É esta a lógica de descoberta cientifica, e é este o rumo que a Criminologia deve seguir.

domingo, 8 de novembro de 2009

No CSI, yes "The Campbell Collaboration" e "The journal of Experimental Criminology"



"The Campbell Collaboration" e o " The journal of Experimental Criminology" são dois argumentos muito válidos para demonstrar um dos tipos de investigação que se faz em Criminologia e que a Escola de Criminologia nos ensina a fazer! Nada de CSIs!

"The Campbell Collaboration" foi fundada em Fevereiro de 2000 com o objectivo de preparar, manter e tornar acessível revisões sistemáticas ( síntese de resultados obtidos em diferentes estudos de avaliação "evidence-based") sobre o efeito das intervenções aos níveis social, educacional e na área do crime e da justiça. O site oficial é: http://www.campbellcollaboration.org/.

"The journal of  Experimental Criminology" é uma revista científica que tem como objectivo publicar estudos experimentais e quasi-experimentais assim como trabalhos de revisão. O site é: http://www.springer.com/social+sciences/criminology/journal/11292 e neste http://www.springerlink.com/content/v572783t663262jn/fulltext.html têm-se acesso livre a um dos artigos na íntegra.

Explorando um pouco estes sites entende-se o quanto as cadeiras de Criminologia Experimental, Estatistica Aplicada e Métodos Quantitativos ajudam na formação de um licenciado em Criminologia. O objectivo é sermos úteis à sociedade elaborando estudos rigorosos em que se conhecem as realidades envolventes e se adequam as medidas que melhor aplicar-se-ão a esses contextos a fim de reduzir fenómenos criminógenos!

O CSI não existe nem na Escola de Criminologia da FDUP NEM EM LADO NENHUM!

Não se deixem enganar por quem quer vender o Crime!

sábado, 7 de novembro de 2009

Papel do Criminólogo



O  criminólogo é um cientista, tem a visão aguçada, os sentidos apurados e o espírito aberto. Ele investiga a realidade metódicamente, objectivamente, mantendo-se o mais próximo e o mais longe possível, na fina linha que separa a subjectividade do mundo, da objectividade do método!

A criminologia é uma área dotada de uma enorme riqueza e vastidão, tem objectos de estudo variados, como o crime, o criminoso, o delinquente, a vítima, « o mundo da droga», a (in)segurança, os sistemas de controlo social ( e.g. sistema de justiça).  Integra saberes provenientes de áres diversas, desde a psicologia, à sociologia, à biologia, à física, à medicina. Isto porque, o Criminólogo não só produz saber próprio, como também usufrui dos conhecimentos e métodos que se produzem constantemente nas diversas áreas do conhecimento, adaptando-as ao seu objecto de estudo. Esta dialéctica integrativa permite chegar a um maior rigor, um maior perfeccionismo, permite melhorar a cada passo o método usado a fim de chegarmos a soluções pragmáticas cada vez mais utéis à sociedade.

Em primeiro lugar, dever-se-á compreender que o Indivíduo é um ser Biopsicossocial, um Ser que cresce no mundo através  de um processo contínuo de Socialização em que a Construção daquilo que é resulta da interacção mútua e complexa entre o Meio Social, a sua Personalidade e a sua matriz Biológica. Portanto cada parte deve ser estudada em separado nas suas especificidades múltiplas mas tendo em vista a integração neste modelo Biopsicossocial.

O cientista não pode estudar o mundo de uma vez, tem de estudar recortes dessa realidade, sabendo aquilo que já se estudou e aquilo que falta ainda descobrir e desvendar!

No curso de Criminologia tudo isto é abordado, existem cadeiras mais voltadas para a Sociologia , outras mais voltadas para a psicologia e outras para a biologia dando a conhecer os teóricos que nessa área contribuiram para o conhecimento no fenómeno criminológico. Temos a cadeira de Vitimologia, Questões de Segurança, Sistemas de Controlo, ainda outras ligadas ao Direito Penal, às questões de polícia, entre outras.. Objectos de estudo tão interessantes onde muita investigação falta ser feita.

Podemos desenvolver estudos criminológicos contribuindo de modo pertinente para a produção de artigos científicos, intervir juntos dos sistemas penitenciários, do sistema prisional, dos centos de toxicodependência e reinserção social, entre outros. Podemos usar o método experimental, aplicando experiências a amostras, desenvolvendo estudos do tipo avaliativo a fim de testar estratégias de intervenção, descobrir modos de comportamento e reacção... Podemos usar os métodos quantitativos e aplicar questionários, recolher dados de amostras e tratá-los estatisticamente ou mesmo recorrer aos métodos qualitativos ( algo sobre o qual me vou debruçar mais cuidadosamente num próximo post) e integrarmo-nos directamente no terreno, no meio, conviver com o objecto de estudo, aceder à sua subjectividade, ao seu «mundo» tal como ele se apresenta, uma das questões aqui, seria a observação participante em bairros sociais problemáticos, por exemplo!

Todo este texto apresenta tudo e nada, parece um texto farto a transbordar de ideias e informações mas simultaneamente com muitas ideias em suspenso, mas Calma, tudo isto será desenvolvido com calma, cautela e máximo rigor neste blogue, a fim de Sabermos todos o que é neste momento A CRIMINOLOGIA e o quanto ela pode ser útil!

Este blogue transbordará de informações, esclarecimentos e sensações pois como criminólogas será importante contarmos um pouco as experiências do dia-a-dia na Escola de Criminologia, dando a Conhecer ao Mundo, Um Novo Mundo, o da Criminologia!

terça-feira, 3 de novembro de 2009

O que é a Criminologia?

Todos os dias somos deparados com notícias sobre o crime, a violência, o sentimento de insegurança, a criminalidade e outros elementos directa ou indirectamente relacionados. Vivemos numa Era em que o crime vende, em que o sofrimento dos outros provoca, na generalidade das pessoas, uma curiosidade mórbida crescente. A população, dotada de livre-arbítrio, coloca-se do lado da vítima e proclama medidas mais punitivas para "os monstros que corroem a nossa sociedade". Influenciadas pelos media, pelas séries televisivas e pelas opiniões infundadas, acabam por cair num determinismo difícil de curar. Acredita-se fielmente que a criminalidade está a disparar; que a droga leva, de forma linear, ao crime; que a pobreza e a crise provocam, sem qualquer margem para dúvidas, um incremento dos níveis da criminalidade. A maior parte das pessoas demonstra uma intenção de deixar de sair à noite e muitas não ousam passear depois de escurecer, actos que outrora eram feitos com espontaneidade.
Percebe-se, então, que o crime e os elementos circundantes são vistos de forma simples, linear e sem fundamentações cientifica. Como contrariar esta simplicidade e substitui-la pela complexidade?

Já mais de 100 anos passaram desde que a Criminologia começou a emergir. No século XIX, a Escola Positivista, pelas mãos de Lombroso (que escreveu "O Homem delinquente" em 1876), dá os primeiros passos na criação de uma disciplina cientifica. Efectivamente, com uma hipótese errada - o homem delinquente é diferente, em natureza, do homem normal - este autor procurava sinais na constituição do crânio que diferenciassem um criminoso de um não criminoso. Defendia a existência do criminoso nato (e portanto, aliava-se ao determinismo), que era um ser atávico, i.e., que pertencia a uma espécie anterior. Apesar de se apoiar numa hipótese que ao longo dos tempos foi sendo refutada, Lombroso suportou-se no método experimental, o que contribuiu para a legitimação da Criminologia (na altura, Antropologia Criminal) como uma área de saber cientifica. Os seus discípulos (Garófalo e Ferri) continuaram na procura da etiologia do crime, embora atribuissem causas diferentes ao impeto criminal de um individuo: moralidade e multifactorialismo, respectivamente.
Com o decorrer do século XX, vários foram os autores que potenciaram a cientificidade da Criminologia e o conhecimento complexo da mesma. Várias teorias foram desenvolvidas no sentido de entender a personalidade criminal do individuo (estando este conceito relativizado hoje em dia); conhecer o processo de passagem ao acto criminoso (e.g. De Greeff). Por outro lado, através dos movimentos feministas, o foco começou a dirigir-se não só para o criminoso mas também para a vítima, sendo que, inicialmente, esta era concebida como alguém que precipitava o crime. Nos anos 60 emergiu o estudo da reacção social ao crime, onde teorias como o Labelling (Becker, H.) foram imperando e influenciando outras. Mais recentemente, a (In)Segurança tem entrado no universo criminológico, tendo, actualmente, uma digna importância na ciência em questão. Com efeito, este sub-elemento permite entender e problematizar não só os dados objectivos da insegurança mas também os sentimentos das pessoas. Afinal, o que é o medo? O que é a preocupação? Através das teorias desenvolvidas por diversos autores (e.g. Ferraro) torna-se fulcral a ideia de que podemos ter medo de sair depois de escurecer mas não estarmos preocupados com o fenómeno do crime, algo que é necessário diferenciar na altura de medir a insegurança (e a criminalidade).

Pois bem, percebe-se então que a Criminologia é uma ciência interdisciplinar - ou uma área que se candidata a uma ciência, estando a subir os degraus necessários (e aqui emergem questões epistemológicas que futuramente serão respondidas) - que estuda o acto, o criminoso, a vítima, a reacção social e a (in)segurança.

Este blog tem como objectivo dar a conhecer a Criminologia, os seus objectos, métodos e objectivos, procurando, mesmo informalmente, contribuir para o crescimento desta importante área de saber.